quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Moralidade de um lado só




Paulo Moreira Leite, na Revista Época

Meu ponto de vista é que o mensalão não foi apenas caixa 2 para campanhas eleitorais nem apenas um esquema de desvio de recursos públicos. Foi uma combinação de ambos, como sempre acontece em sistemas eleitorais que permitem  ao poder econômico privatizar o poder político com contribuições eleitorais privadas.
Um julgamento justo será aquele capaz de distinguir uma coisa da outra, uma acusação da outra, um réu do outro.
Quem combate o financiamento público de campanha não quer garantir a liberdade de expressão financeira dos eleitores, como, acredite, alguns pensadores do Estado mínimo argumentam por aí e nem  sempre ficam ruborizados.
Quer, sim, garantir a colonização do Estado pelo poder econômico, impedindo que um governo seja produto da equação 1 homem = 1 voto.
É aqui o centro da questão.
Tesoureiros políticos arrecadam para seus candidatos, empresários fazem contribuições clandestinas e executivos que tem posições de mando em empresas do Estado ajudam no desvio. Operadores organizam a arrecadação eleitoral e contam com portas abertas para tocar negócios privados. Fica tudo em família – quando são pessoas com o mesmo sobrenome.
Foi assim no mensalão tucano, também, com o mesmo Marcos Valério, as mesmas agências de publicidade e o mesmo Visanet. Um  publicitário paulista  garante pelos filhos que em 2003 participava de reuniões com Marcos Valério para fazer acertos com tucanos e petistas. Era tudo igual, no mesmo endereço,  duas fases do mesmo espetáculo.
Só não houve  igualdade na hora de investigar e julgar. Por decisão do mesmo tribunal, acusados pelos mesmos crimes, os mesmos personagens receberam tratamentos diferentes quando vestiam a camisa tucana e quando vestiam a camisa petista. É tão absurdo que deveriam dizer, em voz baixa: “Sou ou não sou?” Ou: “Que rei sou eu?”
Mesmo o mensalão do DEM, que, sob certos aspectos, envolveu momentos  de muito mau gosto, foi desmembrado.
Diante da hipocrisia absoluta da legislação eleitoral, sua contrapartida necessária é o discurso moralista, indispensável para dar uma satisfação ao cidadão comum. Os escândalos geram um sentimento de revolta e inconformismo, estimulando  o coro de “pega ladrão!”, estimulado para “dar uma satisfação à sociedade” ou para “dar um basta na impunidade!” Bonito e inócuo. Perverso, também.
Até porque é feito sempre de forma seletiva, controlada, por quem tem o poder de escolher os inimigos, uma força que está muito acima de onze juízes. Estes são, acima de tudo, pressionados a andar na linha…
Em 1964, o mais duradouro golpe contra a democracia brasileira em sua história, teve como um dos motes ilusórios a eliminação da corrupção. O outro era eliminar a subversão, como nós sabemos. Isso demonstra não só que a corrupção é antiga mas que a manipulação da denúncia e do escândalo também é. Também lembra que está sempre associada a uma motivação política.
Entre aqueles que se tornaram campeões da moralidade de 64, um número considerável de parlamentares recebeu, um ano e meio antes do golpe,  cinco milhões de dólares da CIA para tentar emparedar João Goulart no Congresso. Depois do 31 de março essa turma é que deu posse a Ranieri Mazzilli, alegando que Jango abandonara a presidência embora ele nunca tenha pedido  a renúncia.
Seis anos depois do golpe, o deputado Rubens Paiva, que liderou a CPI que apurou a distribuição de verbas da CIA e foi cassado logo nos primeiros dias, foi sequestrado e executado por militares que diziam combater a subversão e a corrupção.  Não informam sequer o que aconteceu com seu corpo. Está desaparecido e ninguém sabe quem deu a ordem nem quem executou.  Segredo dos que combatiam a subversão e a corrupção, você entende.
O alvo era outro. A democracia, a sempre insuportável equação de 1 homem = 1 voto.
Eu acho curioso que a oposição e grande parte da imprensa – nem sempre elas se distinguem, vamos combinar,  e recentemente uma executiva dos jornais disse que eram de fato a mesma coisa – tenham assumido a perspectiva de associar,  quatro décadas depois, a corrupção com aquelas forças e aquelas ideias que, em 64, se chamavam de subversão.
A coisa pretende ser refinada, embora pratique-se uma antropologia de segunda mão, uma grosseria impar. Não faltam intelectuais  para associar Estado forte a maior corrupção, proteção social a paternalismo e distribuição de renda à troca de favores. Ou seja: a simples ideia de bem-estar social, conforme essa visão, já é um meio caminho da corrupção.
Bolsa-Família, claro, é compra de votos. Como o mensalão, ainda que nenhuma das 300 testemunhas ouvidas no inquérito tenha confirmado isso e o próprio calendário das votações desminta uma conexão entre uma coisa e outra. Roberto Jefferson disse, na Policia Federal, que o mensalão era uma “criação mental” mas a denúncia reafirma que a distribuição de recursos era compra de consciência, era corrupção – você já viu aonde essa turma pretende chegar.
A corrupção dos subversivos é intolerável enquanto a dos amigos de sempre vai para debaixo do tapete.
Desse ponto de vista, eu acho mesmo que o julgamento tem um sentido histórico. Não por ser inédito, mas por ser repetitivo, por representar uma nova tentativa de ajuste de contas. Não é uma farsa, como lembrou Bob Fernandes num comentário que você deve procurar na internet.
A farsa é o contexto.
Veja quantas iniciativas já ocorreram. O desmembramento, que só foi oferecido aos tucanos. O fatiamento, que nunca havia ocorrido num processo penal e que apanhou o revisor de surpresa.
Agora que a mudança de regras garantiu que Cezar Peluso possa votar pelo menos em algumas fases do processo (“é melhor do que nada”, diz o procurador geral) já se coloca uma outra questão: o que acontece se o plenário, reduzido a dez, votar em empate? Valerá a regra histórica, que eu aprendi com uns oito anos de idade, pela qual em dúvida os réus se beneficiam? Ou o presidente Ayres Britto irá votar duas vezes?
E, se, mesmo assim, houver uma minoria de quatro votos, o que acontece? Vai-se aceitar a ideia de que é possível tentar um recurso?
Ali, no arquivo das possibilidades eventuais, surgiu uma conversa do ministro Toffoli, às 2 e meia da manhã, numa festa em Brasília. Já tem sido usada para dar liçãozinha de moral no ministro. No vale-tudo, servirá  para criar constrangimento.
Enquanto isso, os visitantes que chegam a Praça dos Três Poderes demonstram mais interesse em tirar foto turística para o facebook do que em seguir os debates, como revelou reportagem de O Globo. Calma. O julgamento não vai ser tão rápido como se gostaria. Com a cobertura diária no horário nobre, manchetes frequentes, é possível mudar isso…
Minha mãe ria muito de uma vizinha, que dias antes do 31 de março de 64 foi às ruas de São Paulo protestar a favor de Deus, da Família, contra a corrupção e a subversão. Quando essa vizinha descobriu, era um pouco tarde demais e a filha dela já tinha virado base de apoio da guerrilha do PC do B. O diplomata e historiador Muniz Bandeira conta  que a CIA trouxe até padre americano para ajudar na organização daqueles protestos.
A  marcha de 64 foi um sucesso, escreveu o embaixador norte-americano Lincoln Gordon, num despacho enviado a seus chefes em Washington, já envolvidos no apoio e nos preparativos do golpe. Mas era uma pena, reparou Gordon, que havia poucos trabalhadores e homens  do povo.

FONTE http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/caixa-dois-eleitoral-e-o-financiamento-publico-de-campanha

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Fwd: 2/70 ( leia-se fragmento 2/70 de A História de Idéia )

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

Idéia Sem Tempo. Ansioso. Rejeitado. Idéia Sem Luz. Lucifer. Idéia Sem Paz. Mort



De
:
jose carlos lima 

Idéia Sem História
Idéia Sem Cabeça. Medusa. Decapitado
Idéia Sem Coração
Idéia Sem Respeito
Idéia Sem Parede
Idéia Sem Atenção

Tenham muito cuidado com todos estes nomes. Tudo o
que há, e o que não, tem uma história, inclusive os
vírus=bactérias=átomos=pombos. Aki=aqui tudo será revelado, inclusive a
História dos Pombos.

No e-mail anterior um parágrafo foi bagunçado. Não
sei como isto ocorreu. Sei que isto é obra de Idéia Sem Rosto. Ele está por
aki=aqui, interferindo neste texto, tentando impedir que eu não revele seu
rosto ao mundo. Por isso, estou enviando, novamente, o parágrafo que havia
sido bagunçado=roubado=distorcido=atrapalhado por ISR=Idéia Sem Rosto, o
anticristo, aquele que, em nome do perfeccionismo=pureza
racial=espiritual=sexual matou milhões de judeus=comunistas=homossexuais
durante a Segunda Guerra Mundial.

A Segunda Guerra Mundial foi obra de Idéia Sem
Rosto=Matéria=Sexo=Ego.






Grato,

José Carlos Lima

Goiânia - Rio Meia Ponte

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A desumanização dos usuários de crack

O Luís nos fez romper o medo, o preconceito, sentar ao lado deles, dialogar, interagir, ouvir. Vimos usuários conscientes, críticos. Pela TV, acompanhando os noticiários, os grandes portais da internet, isso não seria possível (Rodrigo Mesquita de Alencar, sobre sua experiência de conversar com um usuário "anti-social" do crack)
Amigo Rodrigo, também tive esta experiência dias atrás. Foi quando concluí que é necessário ouvirmos  os usuários "anti-sociaiais" do crack. Ficarmos restritos à TV e à internet é como estamos presos à teorias. Dias atrás tive esta experiência. Foi quando vi que eu era bem preconceituoso quanto ao assunto, mesmo acompanhando as postagens no Nassif. Sem a conversa com o "Edu Trevas" meus preconceitos não teriam desabado. É no contato real que nós nos colocamos no lugar do outro. Foi gratificante ficar por mais de uma hora ouvindo o "ET", uma pena que, por não dar-me conta de que seria tão importante,  não gravei a conversa. Lembro-me que ele me disse coisas tais como: O bom do crack é a "lirica" (grupo de usuários) mas, bom mesmo, é ficar de fora, apenas observando, sem usar nada. Hoje não consigo. Perdi tudo. Sou jornalista. Sou também locutor, sei imitar várias vozes (e fez várias vozes, imitou vários personagens, quando vi que ele realmente era locutor).
Este seu texto me fez lembar do ET, eu já havia me esquecido dele, preciso reencontrá-lo. Eu o conhecia de vista há muito tempo, afinal de contas é um destes "loucos de rua",  no entanto ao ouvi-lo vi que não é nada disso, são sim, bastante conscientes quanto a própria realidade que vivenciam, os preconceitos dos quais são vítimas no dia-a-dia. Ele me disse: Eu nunca havia contado isso prá ninguém.  Eu sofro muito por não poder me livrar do crack, uma droga muito barata que termina ficando cara por que você tem que consumir repetidas vezes. Aí você leva a própria camisa para trocar por uma pedra. Depois leva a calça. Por isso ando assim.   Continue lendo >>>>>